segunda-feira, abril 20, 2009

Casos de Sucesso I [FLOSS] [Arquitectos]

Venho dar-vos dois casos de sucesso, de arquitectos que usam software livre como a sua base de trabalho, fugindo ao monopólio Microsoft, e num dos casos ao monopólio Autodesk:
  • Neste primeiro caso, um estudante conseguiu converter-se sem utilizar o software do costume, e quase só usando software livre (excepção feita ao Bricscad);
  • Neste segundo caso, um gabinete inteiro de arquitectura em Joanesburgo mudou-se para software livre, correndo no Wine o AutoCAD.
Mais tarde terei mais casos de sucesso em mudanças para software livre.

6 comentários:

squiddy - a lula disse...

Lol!
Estava a ver uma apresentação online do Acad LT e dei uma espreitadela do teu blog! Não podia ser mais adequado o tema! lol

Olha que já vi vários gabinetes a mudarem para aplicações CAD muito mais baratas que o o AutoCAD e também já vi muitos a desistirem dessas aplicações por problemas de compatibilização de ficheiros. Apesar do dwg ser um standar (ou algo assim) tem informações diferentes conforme a proveniência do ficheiro e problemas de "desformatação" são frequentes. Isto é o que eu tenho ouvido por aí... e como vivemos numa meio em que a interoperabilidade é fundamental e a troca de ficheiros é frequente... esse é um problema que pode surgir.

Que a Autodesk é uma máfia, é! Eu estou num Revendedor de Valor Acrescentado e vou vendo como as coisas são. Obviamente a concorrência é para abater! E obviamente têm que se criar obstáculos a nível de formatos (apesar de tudo eles têm um grande controlo do mercado e conseguem fazer isso): este ano saiu o formato ADSK, com o objectivo de trocar ficheiros entre aplicações autodesk (um pouco óbvia a filosofia, não? preferiram não trocar essa info em formato nativo - implicações por trás disso já é informática a mais)!

É engraçado como mesmo internamente há uma luta constante entre soluções: melhora-se uma mas nunca se pode aniquilar a outra o que obriga a fazer um jogo incrivel entre as funções disponibilizadas por acda software de forma a que nenhum invalide/fragilize a necessidade do outro!

Por outro lado ( e é aqui que eu não compreendo muito a questão dos softwares livres) tenho noção da quantidade de pessoas que trabalha nesta área para viabilizar este mercado e fazer com que o software autodesk seja efectivamente lider. Um revendedor como aquele em que eu trabalho, ou seja, um estabelecimento comercial (como poderás pensar) tem tantos técnicos a ar suporte e a investigar as soluções e possiveis adaptações das mesmas como vendedores/comerciais. Estamos a falar de um revendedor. Imagina o número de pessoas cujo empergo e ordenado está baseado no lançamento e utilização das soluções autodesk. E isso é realmente necessário para elas serem o que são e para melhorarem de ano para ano...

Se este tipo de empresas não existisse, ainda não estariamos certamente na era BIM e dúvido o software CAD tivesse metade das funcionalidades que tem actualmente...

A minha ideia é a de que o software livre (ou de preços reduzidos) raramente oferece inovação, tratando-se geralmente de uma cópia inferior (ou no máximo igual) de algo existente no mercado a preços muito altos. Podes corrigir-me, estou a ser sincera e é a ideia que tenho!

Até porque parece extraordinário um estudante fazer projecto com software livre: como é que isso pode ser extraordinário? Esse software não foi concebido para tal??

Isto são apenas pontos de vista... e Não, NÃO concordo com os preços que pagamos pelo software. Estão totalmente afastados da nossa realidade.
Ou não... aí entrariamos nas questões de subsidios de estado e da quantidade de empresas que existem sem viabilidade económica e que vivem de fundos. Não vale a penas muitas vezes insistir num negócio que está morto... isso não gera inovação e é uma mentira que se mantém, uma esperança vã.

A meu ver a questão está aí, preços melhores seria mais justo, mas também não concordo que se consiga grande evolução com voluntariado e soluções gratuitas. Isso não acontece em área nenhuma: é necessário investigação e as pessoas devem ser pagas por aquilo que fazem e geram.

Aliás o problema do software pirateado e dos estagiários gratuitos a meu ver é o mesmo: gera uma falsa concorrência com preços muito abaixo do custo real dos produtos (projectos, por exemplo) e quem pretende pagar empregados e software não consegue competir. Como geralmente é mais fácil ser apanhado pelo software até me parece que a fazer trafulhices, começa-se com os empregados!

Posso estar a dizer barbaridades, mas agradeço que me corrijas nos pontos em que estou errada! É uma questão onde não tenho nenhuma certeza e não confio em nenhum dos lados! :)

Já agora,há alguma solução BIM free? (tipo Archicad / Revit)

E já viste as novidades do Acad 2010? Brutal! Pena que pouca gente use aquilo como deve de ser!

Espero resposta! :P

Ricardo Ramalho disse...

Vou-te desde já responder à última questão: Não existe nenhuma solução out of the box para BIM em sistemas livres. Podem-se até fazer combinações de outros softwares, mas são isso mesmo - adaptações.

Agora vamos a conceitos errados, que aí vai muito conceito errado, cara AnaLuu:

1) Software Livre não implica ser de borla - não é, senão algumas empresas grandes na área nem existiam. Casos da Red Hat, Oracle, Sun Microsystems, Novell entre muitos outros. A questão aqui é o desenvolvimento colaborativo, o que não implica que não cobres p'lo teu software. Isso nunca foi a questão, a questão está na forma como se faz e se constrói, usando normas e standards, e nunca criando vendor lock-in (estar preso ao vendedor).

2) Software Livre é inferior ao Proprietário - depende dos projectos. Na área do CAD, há de facto lacunas na área do software livre, mas se olhares à volta, muita coisa que tens na internet é servida por máquinas Linux com serviços Web dados p'lo Apache/PHP/MySQL, tudo sistemas livres. Tens MUITAS soluções abertas que são melhores que as soluções comerciais. Mais do que tu possas imaginar. Coisas como o Java que tens nos telemóveis, largas partes do Sistema Operativo da Apple (MAC OS X) são software livre.

3) Software Livre é isso mesmo. És livre de saber como funciona, de o modificar, de poderes fazer algo igual, ou de vender serviços. No strings attached! Verdadeira concorrência sem estar dependente de empresas gordas e anafadas que vivem do chulanço e ser darem real valor ao que vendem.

Mandei-te um e-mail a explicar o que é a forma colaborativa de funcionar no software livre. Dá uma olhada para perceberes melhor.

squiddy - a lula disse...

Ok!
Não sei se já conheces esta história mas a Autodesk ganhou recentemente um processo (que já decorria há muitos anos) contra uma empresa que comercializava uma aplicação que adicionava comandos ao AutoCAD LT.
Para quem não sabe, o LT é a versão light do ACAD, muito mais barata, sem algumas funcionalidades (3D, etc.).
Essa aplicação servia para dar essas funcionalidades (ou semelhantes, não sei bem) ao LT.
Foram processados, a Autodesk venceu e agora quem usa essa aplicação tem que deixar de usar. Se quizeres mais sobre o assunto, diz! :P

Já agora, o AutoCAD por exemplo tem linguagens de programação integradas e é possivel, para quem sabe, adaptar o software ao utilizador de certa forma. Há muitas aplicações desenvolvidas por empresas independentes que funcionam com o AutoCAD (adição de comandos,funcionalidades específicas para determinado trabalho, etc.), sem qualquer problema (desde que não ultrapassem alguns limites como o casoq ue descrev acima). Por exemplo, há uma aplicação nacional que corre no Revit, para cálculo de eficiência energética nos edifícios. Isso não é abertura? Ou não é suficiente?

Em termos de compatibilização, mando-te um artigo interessante e que mostra como algumas especificidades dos softwares (e falo na minha área) não podem ser transportadas de uns para outros, aliás, é por isso que se destinguem: o modo de funcionar é diverso, bem como as entidades geradas e as propriedades das mesmas. Nem sempre tudo pode ser compativel, ou vais ficar a perder: exigências de compatibilização são muitas vezes um limite para o desenvolvimento da aplicação.
http://www.aecbytes.com/viewpoint/2009/issue_44.html
"...maybe BIM is just too complicated for true interoperability to be achieved. What exactly is a “wall”?"

Por exemplo, no Revit não tens hipótese de gravar numa versão anterior, ou seja, se gravares um projecto na versão 2010 e o queres fornecer a alguém que não actualizou e tem a versão 2008, esse não vai conseguir visualisar sequer o ficheiro.
A primeira tentação é ver isso como uma imposição da Autodesk para te obrigar a actualizar o software. Mas a resposta deles é que se não for assim, estão de mãos atadas e que é preferivel ter liberdade de criação a ficar preso às versões anteriores. Compreendo o conceito e olhando para as diferenças nas versões 2008, 2009 e 2010, até parece aceitável (as melhorias foram muitas). Se é verdade ou não o que dizem, isso já não sei, mas se é, não sou contra!

Atenção que eu apenas conheço a minha área (software para projecto AEC). É provável que estas limitações e problemas nãos e coloquem noutras áreas... mas também não sei até que ponto a questão do "software livre ou open source" se pode generalizar assim tanto!

E chega de paleio! :)
Depois leio o teu artigo!
Bjinhos

Ricardo Ramalho disse...

Isso das "especificidades não podem ser transportadas" é uma forma de dizer "nós não vamos fazer esforço para transportar os dados de forma standard para nos protegermos no nosso feudo". Desculpa, mas é assim mesmo - lógica do lucro e da terra queimada.

Obviamente que, também não convém quando visto de uma forma pura de negócio tradicional, deixar uma versão recente de um software proprietário guardar dados numa versão anterior, sob pena de "não ser possível o avanço". É sempre possível, o AutoCAD (através do LISP por exemplo...) permitiria concerteza plug-ins para ler os dados no formato novo. Mas isso não convém, de uma forma de negócio... Um tipo de software muito complexo, como o Word da Microsoft, teve um 'problema' semelhante com o formato docx, e eles fizeram conversores para as versões anteriores. É uma questão de negócio e não uma questão técnica. É uma questão de obrigar ao consumo. Chama-se a isso "vendor lock-in" - estás presa ao vendedor. E desculpa, não posso concordar com isso - é anti-concorrencial.

Quanto à versão LT e ao processo que os outros perderam... É natural, dado que eles punham uma versão "barata" do ACAD a fazer o mesmo que outras versões bem mais caras faziam. As chamadas estratificações de produto servem para eles fazerem mais dinheiro, e se alguém lhes "rouba" o feudo, eles atacam porque deviam estar mesmo a perder muito dinheiro.

E quando falo de formatos de dados, falo de formatos acordados e definidos p'las entidades, sejam elas produtoras de software livre e/ou proprietário.

Isso não convém aos detentores de monopólios como é o caso da AutoDesk, Microsoft e tantos outros. Vai ver o caso fraudulento de aprovação na ISO do formato novo de ficheiros do Office, quando já existia um formato aprovado. Depois, estes senhores aprovam patentes que ainda destroem mais os direitos à livre concorrência...

É uma questão de direitos! É preciso perceberes isto, independentemente dos méritos que até tenham os produtos que vendes... O software livre é uma das formas de defender os direitos dos consumidores, mesmo que eles nem tenham noção que seja preciso defender esses mesmos direitos... digitais neste caso.

squiddy - a lula disse...

Ramalhinho, eu não vendo software! Tenho é que o conhecer melhor que os vendedores!
E parece-me que ambos os lados são extremistas, não podendo dar razão a uns nem a outros. Nem o capitalismo funciona nem o comunismo puro e muito menos o anarquismo!

Leste o artigo http://www.aecbytes.com/viewpoint/2009/issue_44.html
ou nem por isso? Fala de questões muito concretas de transportabilidade de dados / interoperacionalidade entre aplicações BIM.

Eu não estou a falar de aplicações na generalidade, estou a falar de um mercado muito particular e a minha área dentro desse mercado é o BIM.
Também verifiquei que caso de estudo do gabinete de arquitectura trabalha com o Acad R14. Essa versão é muito antiga.

Acrescento só mais um dado: de uma versão para a outra do Revit, por exemplo, mudou o motor de renderização. Essa melhoria fez com que todos os materiais aplicados em projecto anteriores (versões anteriores do mesmo software) se perdessem e todos os utilizadores tivessem que criar uma biblioteca nova para aplicar. A migração para uma versão mais actual foi assim dificultada para os utilizadores mas na generalidade todos ficaram muito satisfeitos porque a melhoria de performance em renders compensou a perda de informação.
Seria possível arranjar uma estratégia para não se perder os materiais? Afinal é tudo informática... É possível que sim. Se isso demorasse mais um ano a implementar, será que os utilizadores preferiam esperar? Dúvido, porque esta é uma melhoria daquelas que valem mesmo a pena...
Isto é o que passa mais concretamente numa aplicação BIM. Imagina agora a passagem de informação desta aplicação para outra!

Fizeram isso para dificultar a vida aos utilizadores de Revit ou para estes mudarem para a concorrencia? Também duvido... acho é que isto não é tudo assim tão simples e no meio das mentiras há algumas verdades e viceversa!

Bj

Ricardo Ramalho disse...

Sim, li o artigo...

E a páginas tantas o tipo diz:
In the future, it may be necessary to create a standardized system for coding material types.Lá por existir um IFC2x3, isso não quer dizer que ele seja realmente seguido não é verdade? O senhor até escreve:
On the application side, vendors have to understand that just having the best products and a certification is not enough if users get shut out of working on specific projects. They need to take advantage of the open nature of translations like IFC and create custom files specifically designed to maintain the parameter needs of a particular recipient application. They need to create their own object parameters in such a way as to properly process standard translation files. They also need to provide tools for these translation files which will allow users to better control the process. Vendors should also allow users to know exactly how parameters of objects are assigned so that automated processes could be developed to meet client requirements.Isto custa? Claro! Senão tens um sistema caótico, que é o que ele se queixa - que tem falta de standards e falta de abertura.

Para mim pareceu-me mais ou menos óbvio, p'la minha resposta anterior. Esta história do BIM ainda nem se sabe muito bem o que é... A Autodesk, a Bentley e a Graphisoft têm soluções BIM, possivelmente incompatíveis e cada uma delas a puxar para seu lado. São precisos standards sérios e concertados. Isso chama-se abertura, e livre concorrência. É nisso que assenta grande parte do Capitalismo.

Ah, e não mistures Software Livre com Comunismo. Pode a início parecer, mas não tem nada a ver! Trabalhar de forma colaborativa, usando standards, e normas abertas é das melhores formas de fomentar a economia, criando... Concorrência real!

Bj!