terça-feira, janeiro 16, 2007

Flexisegurança (aka Flexiporcaria)

O nosso Presidente, lá das Índias, mandou a boca sobre a flexisegurança. Com a conversa que já todos conhecemos, que o mundo mudou e que agora a Globalização nos obriga a tipos de atitude diferentes.

Ele sintetizou de maneira simples (incompleta também...) o que é de facto a flexisegurança:

"Isto está muito de acordo com as ideias modernas que hoje adquiriram uma palavra na Europa que se chama flexisegurança: ser flexível e, ao mesmo tempo, assegurar a segurança criando redes de protecção social àqueles que são afectados pela Globalização"

Para só há um pequeno problema: o ser flexível! O que é isso? Em que moldes? E flexível em que sentido? Aliás, toda a ideia de flexibilidade no trabalho é uma ideia muito bonita em teoria, com multiplas vantagens para ambos os lados da balança. Desde horários a funções, passando p'la (teórica...) facilidade em encontrar trabalho, devido à mobilidade de empregos/empregados e ao fácil despedimento.

Depois, outro pequeno problema: O que são redes de protecção social para aqueles que são afectados p'la Globalização? O que é isso? Bom... Versão 2 do Subsídio de Desemprego? Não sei, e também duvido que alguém saiba!

Mas voltando à flexibilidade, que é sempre um tema que eu adoro! Porque é defendida sempre em moldes genéricos, e muito facilmente adaptáveis ao jeito de quem tem o poder efectivo nas mãos - os (maus) patrões, entenda-se. Vamos imaginar, por momentos, que esta ideia já estava implantada:
  1. Quem empresta dinheiro quer garantias, mas com precaridade... ah, flexibilidade desculpem, não tem garantias, logo não dinheirinho para comprar casa, logo casar, logo ter filhos e todas essas coisas;
  2. Já que falo de filhos, como raio vamos ter filhos? Se nem dá para sair de casa dos velhos, porque sair de casa dos velhos implica andar na corda bamba... E como a malta é comodista, não sai. Ou quer jogar no seguro... Não os critico;
  3. E quando já temos filhos, já que somos flexíveis (ie, não queremos perder o emprego!), trabalhamos noites e fins-de-semana; logo, não podemos ver os nossos filhos. Não faz mal, eles (os putos) serão também eles flexíveis e irão ver-nos às 3 da manhã, quando chegamos do emprego;
  4. Chegamos do emprego não! Agora não se chama emprego! Chama-se Cliente, porque agora somos Colaboradores, não Empregados (ainda me hão-de explicar a mudança de designação...);
  5. E já agora, porque não por os putos flexíveis? Eles comem quando querem, estudam quando querem! Não sei! 'Bora ser flexíveis, é muita fixe!
Pronto, já perceberam que não me agrada a ideia! É uma escolha muito economicista para a Sociedade, muito virada para a produção e para o sacrifício individual em nome de sabe-se lá o quê. É uma corrente que não tem em consideração o espaço que cada um necessita para si mesmo, e em que se forma um conjunto de servos (colaboradores) em vez de um conjunto de pessoas que trabalham para o bem individual e comum (empregados).

Coisas como a baixa natalidade ou uma tardia saída de casa dos pais estão intimamente ligadas com a precaridade e falta de segurança no emprego. Digo-o de animo leve e sem papelada para o sustentar... Mas não devo andar muito longe da verdade, provavelmente.

Não concebo uma Sociedade onde não se respeita o espaço individual de cada um no seu dia-a-dia. Todos os dias precisamos de trabalhar, de estar com os nossos, de correr, de descontrair, de estar connosco mesmos! Uns mais, outros menos! Cada um com o seu equilíbrio, e isso implica ter um conjunto de regras que (no meu ponto de vista) são um pouco rígidas. Tais como horários de trabalho pouco flexíveis e despedimentos "complicados".

A Economia é para servir o Homem, e não o inverso...

6 comentários:

Anónimo disse...

Hallo!
Ainda não pude ler tudo, porque estou no trabalho e não vou abusar, mas a frase "Coisas como a baixa natalidade ou uma tardia saída de casa dos pais estão intimamente ligadas com a precaridade e falta de segurança no emprego." chamou-me a atenção. Não concordo. Têm a ver mais com a tradição latina, com a cultura de "mamone" que nós temos.Muitas boas pessoas estão empregadas, podem sair, e não saem de casa dos pais.
Claro que apoios por parte do estado (porque nós ainda damos mais valor ao dinheiro do que à mamma)podem fazer com que o pessoal saia de casa mais cedo!
Existem até os apoios do INH...
Claro que a precaridade e a carência de emprego não ajudam. Os ordenados baixos ajudam menos. E finalmente, nós não somos "jovens" para deixar as saínhas da mama muito cedo... por mais emprego e segurança que haja! hehe :P
Só um pikeno comentário, entre parentesis!!! :D

Ricardo Ramalho disse...

Não concordo contigo... Mas cada um tem direito à sua opinião!

E lê o texto todo, sff :P

Anónimo disse...

Agora já li! :D
Sim, também não considero a flexisegurança assim tão adaptável ao nosso pais como os politicos querem que pareça, mas isso dependerá muito do tipo de regalias, direitos e deveres do patrão/colaborador, tais como férias, licenças, subsídios, indemnizações (porque poder despedir, talvez, mas nunca de um dia para o outro), etc., etc. Só depois de compreender realmente como são as regras me posso pronunciar. Porque a realidade da flexINSEGURANÇA já existe na minha área, com os recibos verdes ilegalmente utilizados no trabalho a tempo inteiro. Mais comuns do que qualquer outro tipo de contrato, pelo menos entre os arquitectos, e que não oferecem férias ou feriados sequer...
Se a flexiSegurança for o "contrato" intermédio que permita acabar com os recibos do "amanhã não voltes, que estamos sem trabalho para ti" e acabe simultaneamente com a estabilidade enfadonha a que alguns se acomodam... talvez...
Há que aprofundar mais a coisa!
O problema é que as medidas actuais do nosso querido governo nunca são para melhorar a nossa vida... são quase sempre para piorar!
E os infantários para putos custam os olhos da cara!! :P

Anónimo disse...

Começando pelas correcções, que a primeira resposta já perdi ao fim de alguns parágrafos.

A economia não faz nada, é apenas um conjunto de ferramentas de análise que o homem usa (e sim, desse ponto de vista serve o homem).

A flexisegurança parece-me uma tentativa de solucionar um problema real: existem duas classes de pessoas em Portugal. A primeira é composta pelos que têm um emprego praticamente garantido. A segunda são os que não conseguem lá chegar ou o perderam.

A situação actual é que é cada vez mais difícil arranjar um emprego. Aumentam as situações de contratos precários, recibos verdes e desemprego de longa duração.

A ideia de reduzir as garantias do emprego, garantindo o rendimento no caso da falta do emprego (a tal parte da segurança) parece-me uma boa solução. Claro que o ideal seria imitar-mos a economia mais competitiva do mundo: compressão brutal de salários (através de um aumento de impostos para quem ganha mais), obrigatoriedade de formação profissional para acesso ao mercado de trabalho (que inclui apredizagem da língua para cidadãos estrangeiros) e preços que garantam que até o empregado de balcão pode comprar a bica.

Claro que tentar fazer com que Portugal imitasse a Suécia obrigava a comunicação e transparência. Mas vá-se lá confiar nos portugueses para isso...

Anónimo disse...

E se todos descontassem o que realmente ganham...
Não seria mais fácil??

Anónimo disse...

Ora bem mais uma vez este assunto que o meu amigo Ramalho, que muito bem, veio trazer para o seu Blog para comentar. Antes de falar sobre este tema, tenho só de chamar-te atenção que tu estás, possivelmente, a ser injusto com a resposta/opinião dada pelo o Cavaco. Deixa-me lembrar que o Cavaco não faz nada, somente opinou referindo que é favorável à Flexisegurança que o governo Português possivelmente pretende seguir.

O conceito de Flexisegurança foi criado por quatro teóricos escandinavos - que estiveram recentemente em Portugal a convite de Vieira da Silva - e foi aplicado, pela primeira, vez por Poul Rasmussen - actual líder dos socialistas europeus e ex-primeiro-ministro da Dinamarca. O termo junta os conceitos de flexibilidade e segurança, na medida em que prevê uma maior facilidade para os empresários nos despedimentos e contratações, mas também uma maior protecção para os trabalhadores que ficarem no desemprego. O modelo obriga igualmente a uma formação ao longo da vida para manter os trabalhadores qualificados.

Concordo com a opinião do joão miguel neves quando diz que este conceito poderá ser (uma tentativa) de solucionar um problema real, senão vejamos:
O Governo diz que são precisas mudanças na legislação laboral: Também concordo que é necessário, deste modo o Ministro do Trabalho e da Solidariedade Social (Vieira da Silva) nomeou uma comissão do livro branco - presidida pelo professor António Monteiro Fernandes, com mais 11 especialistas da área - que deverá apresentar conclusões até ao final do ano. O mesmo Ministro já tinha dito anteriormente, que este modelo (Flexisegurança)não é aplicável mecanicamente aos estados-membros da UE, nem há modelos transferíveis de país para país, por isso é que nomeou essa comissão do livro branco.
Relembro que são esses especialistas da área, e não o governo, é quem vão decidir se o modelo é possível ser aplicado ou não no nosso país.

Eles bem querem imitar os nórdicos, esquecem é que a mentalidade portuguesa é diferente. Vamos ver… se resulta nesta cantinho da Europa cheio de Sol!

É claro, se no futuro for para avançar com este modelo, a comodidade de alguns fica em risco, nesta área como em tudo, pagam uns pelos males feitos pelos outros... pois sei que há muito dito trabalhador que passa o tempo "encostado"...e falta injustificadamente vezes sem conta... mas também sei que esses não serão os despedidos pois normalmente têm boas cunhas. Não se esqueçam que este modelo já foi aplicado no nosso país, nomeadamente na AutoEuropa quando a administração e a comissão de trabalhadores acordaram alterações nos horários de trabalho, controle nas horas extraordinárias ou salários congelados, conseguindo com isso evitar despedimentos.

E por último, esperem por mais Greves ou jornadas de protesto nos próximos tempos, porque os sindicatos não vão largar este "osso" facilmente.

Respondendo ao jp: Não sei se o problema é o descontassem o que realmente ganham, sei que continuamos a ser o país com maior disparidade de riqueza.
A diferença de ordenados que existem nos quadros superiores de muitas empresas, em relação aos colaboradores (como se diz agora) que trabalham, maior parte das vezes mais horas, é enorme. As diferenças de ordenados são abismais!