terça-feira, outubro 17, 2006

Duas contradições

  • Pedem-nos para ter filhos... Certo! Mas pedem-nos mais horas para trabalhar... Portanto, onde está o tempo para a família? Certo...
  • Pedem-nos sacrifícios... Certo! Mas quem paga mais são sempre os mesmos... Quem mais tem, o mesmo paga... Onde está a equidade fiscal? Certo...
Está sempre certo. Eles é que sabem, afinal nós votámos neles certo? Certo...

Sim, já se sabe que aqui vivemos num país cheio de brandos costumes e de mamões (uns mais descarados que outros...), mas não deixo de perguntar a mim mesmo que raio se passa! É que se muitas das medidas dos nossos governantes até me parecem, em teoria, correctas, há outras que me deixam algo perplexo. Não, não estou (mais uma vez "em teoria"), contra as novas taxas moderadoras, nem contra as medidas a aplicar no ensino, nem nada disso. É mais profundo! É pensar nisto como "um todo".

Fala-se no envelhecimento da população! Diz-se que é causado essencialmente p'lo estilo de vida que as pessoas têm. Certo... Portanto, esperar-se-iam medidas que promovessem a natalidade, por um lado incentivando o tempo para a família. Não vejo nada disso... A flexibilização dos horários de trabalho, juntamente com a mobilidade, juntamente com a precaridade têm um preço. E alguém que me desmonte este argumento. É simples demais de perceber! As medidas separadamente fazem imenso sentido! Ora vejamos:
  • Flexibilização de horários - acabar o que é importante, na altura que é importante. Não obedecer a rigidez inflexível torna mais dinâmico o mercado de trabalho. Sem dúvida!
  • Mobilidade - optimização de gastos, optimização dos próprios recursos humanos, as pessoas certas sempre nos lugares certos e sem excessos de pessoas. Perfeito!
  • Precaridade - a idade deixa de ser "posto", e as pessoas têm que se esforçar se querem o contrato renovado. E provavelmente sujeitam-se mais facilmente aos dois pontos anteriores. Promove uma maior produção, tanto mais não seja porque promove outra coisa: o medo de perder o lugar. De forma implícita ou explícita.
Estas três medidas acabam por ser exactamente potenciadoras da primeira contradição. Mesmo não estando na lei, as coisas já eram assim, efectivamente! Portanto só foi para a lei (na altura do Bagão), aquilo que já se praticava. Agora só foi efectivado de um ponto de vista legal.

O problema é que isto é hipócrita! Vêm falar de sustentabilidade da Segurança Social, e com esquemas do arco da velha para isto se aguentar mais uns anos. E por termos concorrencia fiscal de outros países aqui ao lado, pagam sempre os mesmos; porque não se podem aumentar os impostos para as empresas, porque isso gera desemprego (em teoria); porque as transacções da bolsa não podem ser taxadas em 0,5% p'las mesmas razões (em teoria). Mas será que os que mais têm não podem pagar mais? É assim tão difícil afrontar poderes instalados? Fazem (e bem!) algumas importantes reformas. Mas podiam ser um pouco mais duros com quem tem mais. Isso é justiça social na sua verdadeira essencia.

E, no fim disto tudo, querem natalidade? Não é possível, desculpem lá! As pessoas não têm tempo, nem dinheiro para ter filhos! Já nem falo dos outros factores acessórios, como o egoísmo, a carreira, e o raio que parta tudo isto... Essa história da carreira fica para um outro post, que será bem mais cáustico para as Carreiras...

2 comentários:

Anónimo disse...

Achas que a precaridade promove a produtividade? Sabes que mais dia menos dia vais para a rua de qualquer maneira! Não tens qualquer motivo para te esforçares porque sabes que muito provavelmente não serás tu a terminar o que começaste...
E pois... filhos? o que é isso?
Sabes que a roupa de criança tem preços semelhantes à roupa dos adultos em lojas de marca? pois pois...

Ricardo Ramalho disse...

Promove pois... P'la negativa! P'lo medo e não p'la motivação. P'lo medo e não p'la qualidade e vontade de produzir...

Se não ficou explícito no texto, peço desculpa...

Beijo afilhadinha linda! :)