terça-feira, janeiro 31, 2006

Bill Gaitas, OSS e outras considerações

Update: Não vou rotular o sr. Gates de herói, que não considero, mas tenho que fazer uma certa acção de mea-culpa. Ele, p'lo que me disse o João Neves (é uma fonte fidedigna, acreditem! ;) ), dá 40% do seu rendimento à sua própria fundação. E isso não podem ser só benefícios fiscais... Como ele disse, "nenhum país se pode dar a esse luxo". A acção da fundação dele pode ser lida aqui. O restante post é o original.

O percurso dele e da empresa dele são conhecidos, e toda a gente lhe dá muito crédito, até louvores leva do nosso PR. Ele formou a empresa com um tal de Paul Allen, que poucos se lembram. Até o omitiram nas reportagens da RTP à hora de almoço...

Toda a gente lhe dá o crédito do "primeiro sistema operativo para computadores pessoais" certo? Mais ou menos... Aquando do lançamento do primeiro IBM PC ele (a Micro$oft...) comprou um sistema operativo a uma pequena empresa de Seattle chamada Seattle Computer, que tinha um sistema operativo para processadores Intel 8086 (antecessor arcaico dos modernos processadores da Intel/AMD), e adaptou-o ao IBM PC. Bom... e assim começa a história da Micro$oft! Não fazem nada, compram feito e mudam o rótulo. Depois do ms-dos, veio o windows, e os processos de uma tal de Apple Computer. Depois veio o Windows NT. "Compraram" a equipa inteira (ou parte da equipa, não interessa) que fazia o sistema operativo VMS. Prometiam tudo para o Windows NT (NT=New Technology), que mais tarde se tornou o Windows 2000 e Windows XP. Era o famosíssimo projecto "Cairo". Tudo o que não existia, iria existir no projecto "Cairo"! Ainda hoje há coisas prometidas para esse projecto (extinto... mais que extinto...) que não vão ser incluídas na próxima versão do Windows (que vai ter o lindo nome de "Vista"). Mais de 10 anos depois... Quando alguma da concorrencia já possui essas funcionalidades. Estou-me a lembrar de algo que eles agora chamam "WinFS"... Ah... o VMS era tão bom, que tinha o nickname de Vomit Making System. E eles contrataram essa equipa! ;)

Dou-lhe um mérito, que se calhar é o maior mérito que tem! É um excelente negociador/vendedor. E foi isso que o fez crescer. Não a qualidade dos produtos vendidos. Essa, normalmente, tem deixado muito a desejar. Tem melhorado, mas ainda tem muito a percorrer. Os recorrentes buracos de segurança falam por si, não é preciso falar muito nisso...

OSS? O que é isso? Open-Source Software. Software Livre, software aberto. Algo que todos podem usar, mas não têm que pagar. Ok... Ninguém, ou quase ninguém paga p'lo Windows não é? Pois... Estão a roubar, sabiam? Mesmo que seja à Micro$oft, estão a roubar! Mas como é aceite, e ninguém dá conta mesmo, não há problema. Todos o fazemos! Se o pagassem, começavam a pensar em alternativas... Mas como o amigo dá, e "tass bem", nem se pensa em alternativas não é verdade?

Houve uma iniciativa na Assembleia da República há uns tempos, que definiu uma directiva que dizia que se devia sempre que possível utilizar software livre nas instituições públicas. Usa-se? Vê-se algo nesse sentido? Não! É preferível pagar ao senhor Gaitas, e ver mais uns milhares a viajarem para Redmond. Sim, que é do outro lado do Atlantico... Para a bronco-landia... O dinheiro que se pouparia em licenciamento, em muitos casos, é abismal. Quando se fala do déficit, vê-se o senhor Sócrates a vender a alma ao Diabo, e dar-lhe pipas de massa.

Enfim... We all live in America.

PS: Não tenho nada contra o sr. Gates. Só não o acho o ídolo que o fazem na TV, e em todo o lado. Também poderia escrever muito, mas mesmo muito mais sobre o assunto. Deixo-vos a vós escreverem mais sobre o assunto se quiserem, e desenvolver qualquer um dos temas que aqui levantei de forma (demasiado) superficial.

8 comentários:

francisco feijó delgado disse...

Ele SÓ é o homem mai rico do mundo...

E qual é o problema de dar tendo benfícios fiscais? Vais-me dizer que tu não dás esmola por descargo de consciência? Ou então não dás. Sinceramente perfiro um mundo cheio de donativos com contrapartidas fiscais, do que de hipócritas.

Ricardo Ramalho disse...

Eu tou-me mais é a cagar para o facto de ele ser o homem mais rico do mundo... É-me completamente irrelevante. Esse facto não o faz mais ou menos importante que outras personalidades ditas "relevantes". Para mim o gajo é um homem de negócios bem-sucedido. Que raramente traz algo de novo. Period.

Gosto da ideia de puro altruísmo. Não gosto da ideia de dar a pensar no que vou receber (neste caso o quanto irei pagar a menos). Isso sim é hipocrisia.

Anónimo disse...

Primeiro em relação ao post!

- Não sei como é que o Bill Gates chegou onde chegou. Parece que não foi só por mérito próprio, mas tanto quanto (não) sei, não matou ninguém! E depois, chegar onde chegou não deve ser para qualquer um.

- Em relação aos benefícios fiscais tenho 3 coisas a dizer. Primeiro, como disse o scheeko (apesar de não concordar inteiramente com o post dele, mas já lá vou), é preferivel que se dê pelos beneficios fiscais do que não se dê. Já tivemos esta discussão numa tertúlia. Obviamente que preferia que quem desse, o fizesse por sensibilidade própria que apesar do scheeko, não só acredito como TENHO A CERTEZA, que há pessoas que o fazem, mas para já ficámos a saber, o scheeko não ser uma delas! :p Segundo, suponho que os benefícios fiscais estejam limitados a determinados valores. Se assim for, no caso concreto do Bill Gates, ele só doa para solidariedade esse limite, ou mais do que isso? Vou dizer ao calhas, mas pelo que se diz, tenho impressão que dá mais do que isso! Terceiro, mesmo que o Bill Gates só seja solidário pelos benifícios fiscais, porque é que outros tantos empresários de sucesso, ou artistas de sucesso não fazem o mesmo? O mundo seria, certamente, um bocadinho melhor e mais justo!


Em relação ao post do scheeko.

Eu preferia um Mundo perfeito, onde as pessoas não precisassem de benefícios fiscais para serem solidárias. No entanto, antes por benificios fiscais, do que não darem.

Agora dizeres-me que todos aqueles que são solidários é por descargo de consciência ou então estão a ser hipócritas é assustador! E bastante liberal da tua parte dares tanta margem de manobra para quem pense de maneira diferente da tua. Mas olha, qual era o benefício fiscal ou o descargo de consciência da Madre Teresa de Calcutá? Mas não é preciso ir tão longe... E ser solidário é muito mais do que dar esmola!

Anónimo disse...

Não vou repetir o que o Sheeko e o João Paulo já disseram, mas expresso o meu total acordo.

Agora tu Ricardo, sendo um homem da informática, não percebo como ainda não te predispuseste a criar software para combater o da Microsoft. Depois bastaria rodeareste de boas equipas comerciais e de marketing. Nem que tivesses de comprar software já criado...
Se é assim tão simples, andamos todos a dormir demais.

Desculpa a minha sinceridade, mas mais uma vez manifestas a tua revolta contra quem é bem sucedido.
Não lhes tires a Coroa de Louros! :S

Ricardo Ramalho disse...

Se fosse simples combater a Micro$oft a nível de domínio Global, já concerteza muitos o teriam feito. Software para combater o da M$ já existe, e é muitíssimos casos superior em termos de qualidade. Talvez não o sendo a nível de cosmética, admito.

Eles abusam de posição dominante! Tal e qual a Portugal Telecom faz cá, eles fazem p'lo mundo inteiro. Isso é um facto. Concorrencia faz evoluir... Não são os monopólios! Eles têm processos tanto nos EUA (não me lembra do nome da entidade responsável p'lo processo) e na Comissão Europeia por práticas monopolistas. Violam os standards criados a seu bel-prazer, porque lhes dá jeito! E depois quem é que "fala" com os sistemas deles? Só eles mesmo! E assim fecham os mercados e ninguém pode penetrar.

Podiam ter todos os produtos do mundo, mas seriam bem mais respeitados se usassem standards abertos! Não os usam numa tentativa patética de aniquilar a concorrencia de vez. Não aniquilaram, como têm (felizmente!) estado a perder terreno para alguma concorrencia em algumas áreas.

No mercado doméstico/cliente acredito que tenham na ordem de 90% do mercado. No lado servidor, a história é felizmente diferente. Mas não sei percentagens com certeza.

Anónimo disse...

Ricardo, andas a confundir coisas. Bill Gates não é o mesmo que Microsoft. O trabalho da Bill & Melissa Gates Foundation é extremamente meritório e não consiste apenas em ser um proxy da Microsoft. O que ele faz com o dinheiro depois de o ganhar não é enterrá-lo de novo na Microsoft. Dá uma olhada em: http://en.wikipedia.org/wiki/Bill_and_Melinda_Gates_Foundation

Em relação à Microsoft, tenho de admitir que a equipa de relações públicas deles é genial. Vejamos: propõe-se montar na União Europeia um sistema educacional para 20 milhões de pessoas com 60 milhões de dólares. Acho genial: $3/pessoa. Devem ser uns génios que descobriram como fazer formação tecnológica ao preço da chuva, ou então não estão a contar a história toda. Os contratos a assinar esta tarde são óptimas algemas douradas: contratos com 8 ministérios, dos quais a maior parte consiste em garantir que dos poucos cursos de técnicos informáticos usam tecnologia Microsoft. Nenhum deles consiste em oferecer licenças, mas cursos de formação que estarão desactualizados e inutilizados ao fim de 3 a 5 anos no máximo. Genial (tomem lá o rebuçado que já pagam a seguir). Já não bastavam os contratos de licenciamento bem escondidos (o do IGIF para a saúde ainda hoje só oiço rumores sobre o valor, e o valor que me dizem à porta fechada corresponde a mais de 50% do investimento que a Microsoft se está a oferecer para fazer).

Continuo a ouvir rumores que o governo não está a ir cegamente atrás da Microsoft. Estou curioso para ver o que se vai passar a seguir, por agora tenho as minhas dúvidas...

francisco feijó delgado disse...

Claro que eu também preferia que todos dessem por puro altruísmo, claro. Simplesmente o que dizia é que, em minha opinião, muitos dos que dizem ou aparentam dar por altruísmo, fazem-no por interesse. Então, interesse por interesse, antes o benefício fiscal transparente.

Já agora, quando dizes: "Para mim o gajo é um homem de negócios bem-sucedido. Que raramente traz algo de novo" - discordo. Muitos bons homens de negócios foram pessoas que trouxeram bem ao mundo (como certamente haverá o contrário).

francisco feijó delgado disse...

Claro que eu também preferia que todos dessem por puro altruísmo, claro. Simplesmente o que dizia é que, em minha opinião, muitos dos que dizem ou aparentam dar por altruísmo, fazem-no por interesse. Então, interesse por interesse, antes o benefício fiscal transparente.

Já agora, quando dizes: "Para mim o gajo é um homem de negócios bem-sucedido. Que raramente traz algo de novo" - discordo. Muitos bons homens de negócios foram pessoas que trouxeram bem ao mundo (como certamente haverá o contrário).