Esta manhã, ao ler as gordas nos vários sites houve uma notícia que me chamou de imediato à atenção: foi esta notícia no site do Público (actualmente o meu jornal de eleição); mais uma vez a bela da flexi-segurança.
Tenho realmente as minhas reservas em relação a tudo isso! Sempre dei o exemplo da natalidade, ou da total insegurança de hoje estar aqui e amanhã estar ali... Há quem ache isso normal, muito moderno, muito mais inovador, até quem ache isso muito mais natural... Agora, perante uma bandeira de modernidade, ou da “necessidade de recuperação da economia” (or so they say...), temos que baixar as calcinhas e ser um mero instrumento das corporações.
Portanto, vou ser um mero instrumento económico! Vou ser mais um número, perfeitamente descartável por alguém que acha que não está a ganhar milhões suficientes, e que tem que fazer shift de investimento; não vou ter sítio de trabalho definido, é onde calhar, porque alguém achou melhor que esteja longe da minha família, porque what matters is business; e se tiver um filho poder ser que não o possa ir buscar porque é necessário um pressing no projecto... enfim, os planeamentos foram mal feitos e alguém tem que sofrer por isso – não quem planeou, como é óbvio... Esse está sempre isento de quaisquer culpas! Resumindo: precarização. Pura.
Ah, esqueci-me da parte da segurança! Portanto, terei direito a ter segurança sob a forma de subsídio de desemprego! Dão sempre o exemplo da Dinamarca (inventora do modelo na época do senhor Poul Rasmussen) onde o subsídio pode aceder a 90% do último salário. Francamente, acham possível pagar 90% do salário anterior a todos os desempregados? Com o nível de fuga ao fisco e com o nível salarial que temos? Não acho possível, tanto mais que primeiro vão flexibilizar tudo e mais alguma coisa, e depois dão (se lá chegassem...) umas migalhas sob a forma de uns subsídiozecos.
Cada vez acredito menos nesta “democracia”. Era suposto defender os direitos dos mais fracos e não os direitos daqueles que já não precisam de grandes direitos. Isto estende-se aos políticos (de todas as facções), sindicalistas e até jornalistas... As pessoas deviam estar à frente de quaisquer corporações! Mas eu sei que estou a pedir demais... E provavelmente estou-me a repetir, em relação a posts anteriores.

9 comentários:
Eu percebo o teu ponto de vista, o problema é que "defender os direitos dos mais fracos" muitas vezes promove a chico-espertice tão característica deste nosso quintal e que, segundo dizem, está na base da maioria dos grandes problemas. Talvez não faça assim tão mal "agitar" o mercado de trabalho... E os grandes businesses não são assim tão todo-poderosos como se pode pensar - é claro que tem podem dar um chuto quando acharem, mas dúvido que o façam se fores realmente preciso, o que te obriga a criar esse valor para te aguentares. Durante três anos trabalhei a recibos verdes na base do "chuto-te quando quiser" e de certa forma isso fez-me chegar onde hoje estou. Um gajo não tem que aguentar ser chulado... mas é preciso mexer-se. Acho que vale a pena correr estes riscos se isso contribuir para acabar com os "tachos".
O problema é quando abres a dita caixa de pandora... E estar a abrir excepções, diminuindo a qualidade de vida da população em função d'"A Economia" faz-me confusão.
"A Economia" não é nada sem a população. Acho que se andam a inverter os papéis...
Parece-me que em primeiro lugar deveriamos compreender a realidade actual. Porque o que tu criticas no post já existe e encontra-se muito bem implementado com a história dos recibos verdes por exemplo (visto que o pessoal até desconta sempre o mínimo nem sequer dão direito a subsidio de desemprego).
Não faz sentido que partamos de uma base de direitos que já não existem em muitas profissões, considerando que a média são os contratos sem termo ou com todos os benificios que possuem por exemplo na função pública (que também já estão a perder regalias...)...
Assim, e visto que "se a flexisegurança - precaridade? - não entrar pela porta, entra pela janela", talvez seja realmente melhor regular as coisas, aceitar a realidade e ordená-la, em vez de deixar-mos tudo como está, fingindo que está tudo bem.
É um risco, efectivamente, mas para os que estão bem, porque aqueles que já vivem nessa precaridade, provavelmente agradecem que pensem neles também, que passem a ter alguns direitos...
Esperemos, diria quase, rezemos, para que não fiquemos todos pior, mas olha que se isto for como a história da OTA, daqui a 10 anos ainda se descute a Flexisegurança e entretanto já surgem relatórios com outra estrutura económica qualquer e isto nunca mais é aplicado...
"Porque o que tu criticas no post já existe[...]" - claro que já existe, e é por isso mesmo que se deve fazer barulho! É porque nos andam a enganar à grande!
Sinceramente, aceitar isto como dado adquirido é que não estou disposto...
Usa-se a bandeira, errada, de que estamos só a lutar p'los que têm direitos e agora temos que pensar é nos que não têm emprego. Isso é uma lógica muito retorcida. Essas pessoas já têm direitos! Que tal regulamentar de outra forma os recibos verdes e obrigar os empresários a responsabilizar-se realmente por aqueles que empregam?...
Ou são sempre os mesmos a lixarem-se?... P'los vistos são...
Parece-me que a intenção da flexisegurança é mesmo "regulamentar de outra forma os recibos verdes", criando uma dinâmica no mercado de trabalho que não torne tão recorrente o uso dos recibos, mas admito que não estou muito por dentro dos detalhes deste assunto. O que eu acho é que entre contratos que dão direito a tudo e mais um par de botas e os recibos verdes tem de haver um meio termo. Da mesma forma que tem que haver um meio termo entre os objectivos de uma empresa e os direitos dos trabalhadores. Nem tanto à esquerda, nem tanto à direita.
A flexisegurança significa um mercado de trabalho mais flexivel, mas com politicas activas de emprego que ajudem os trabalhadores a mudar de emprego, e subsídios de desemprego generosos. A flexisegurança está entre a segurança no emprego concebida nos moldes ditos tradicionais ( ilusórios num mundo do trabalho mais instável, com a forte concorrência internacional e globalização) e o modelo americano que significa a desregulamentação.
O que me parece que poderá trazer problemas, é que um emprego activo, ou a segurança na vida activa exige intervenção do estado e um investimento elevado das empresas no "capital humano", sobretudo através da formação. Isto porque, os trabalhadores só mudaram facilmente de emprego se tiverem uma elevada qualificação e se lhes for assegurado essa transição através da segurança social e assistência social. Será que este sistema vai funcionar? é que implica custos para ambas as partes... não é fácil resolver...
Três notas:
O modelo de flexigurança (ou lá que seja o nome dele) nunca vai acontecer decentemente em Portugal (e alguns de vocês sabem que eu o defendo). Isto porque tem alguns requisitos críticos para funcionar:
* Acordo com os sindicatos em experimentá-lo (a paz social).
* Um sistema de segurança social que reaja imediatamente (para a parte de segurança ser efectiva).
* Um sistema judicial funcional e de resposta rápida (para corrigir rapidamente os erros cometidos).
O primeiro não acontecerá por razões políticas. Os outros dois exigem reformas que ninguém está a fazer, infelizmente.
Eu adoro o modelo porque o aumento da "liquidez" do mercado de trabalho (velocidade de contratar e despedir pessoas) reduz o risco do empregador, permitindo aos chefes competentes fazer crescer mais depressa os negócios bem geridos. Permite também uma filtragem dos maus chefes e maus negócios que terão de pagar cada vez mais para manter os recursos que têm. Tudo isto com um risco reduzido para as pessoas (pela tal camada de segurança).
O último ponto que eu deixo para pensar é o problema da vantagem económica para quem recebe do subsídio de desemprego. Alguém que trabalhe 40h/semana (aproximadamente 176h/mês) e receba 1000 euros ao fim do mês está a receber 5,68 euros por hora. Alguém que esteja com o subsídio de emprego a ganhar 500 euros por mês, mesmo que gaste 3 horas por semana nas obrigações semanais de comparecer ou mesmo 10h/semana a ir a entrevistas ganha 41,67 euros/hora ou 10 euros/hora. Um aumento significativo e uma valorização incrível do trabalho feito para o tempo que fica livre... Sim, começo a achar que o sistema de prestações decrescentes do subsídio de desemprego holandês faz sentido.
Existem expressões que me fazem confusão, tal como “....o que tu criticas no post já existe e encontra-se muito bem implementado com a história dos recibos verdes por exemplo (visto que o pessoal até desconta sempre o mínimo nem sequer dão direito a subsidio de desemprego)... Não faz sentido que partamos de uma base de direitos que já não existem em muitas profissões, considerando que a média são os contratos sem termo ou com todos os benificios que possuem por exemplo na função pública (que também já estão a perder regalias...)...”
Vamos lá ver se interiorizam o seguinte já existe mas é ilegal, como tal actualmente temos leis para contestar estas situações e das duas uma, ou ficamos quietinhos no nosso cantinho à espera que alguém faça algo por nós, ou enfrentamos estas ilegalidades, com as armas que a democracia deixa.... Que são as leis e os tribunais...
Já sei que vão dizer que não dá em nada, eu com conhecimento de causa, digo dá sim senhor.
Não devemos ser “cobardes” e ficar a ver o comboio a passar “à espera que outros entrem nesse comboio para resolverem os nossos problemas, e depois ainda nos queixamos, “só 2% de aumento? O que fizeram para terem mais?, nada, não é...
Só com os trabalhadores juntos, é que podemos melhorar à nossa condição, agora com uns a “lamberem” os sapatos aos chefes e a lixarem os colegas, para que no fim do ano recebam uns euros de méritos? Onde está à consciência e os valores destas pessoas?
Quanto ao tema inicial da flexisegurança, deixo-vos aqui um endereço onde podem encontrar um estudo sobre este assunto, para poderem conhecer melhor a realidade do que é proposto, pois só esclarecidos é que podemos e devemos formular as nossas opiniões.
Até à próxima.
http://www.odiario.info/articulo.php?p=289&more=1&c=1
Havia bastante para dizer... mas vou apenas deixar aqui o meu apoio e concordância com o João Neves. E dizer que "O Diário informativo", não me convence! A história do tudo para o patronato e nada para os empregados é do tempo da outra senhora e nada tem a ver com o mundo em que vivemos global, de concorrência e internacionalizações. Temos que activar o nosso mercado de trabalho, dar mais formação, qualificação, para criarmos mais concorrência e conseguirmos competir com o exterior. O estado deve existir como protector e não apenas como gastador.
Agora, se me disserem que há muita coisa que tem que mudar, tal como diz o João Neves, como o sistema de segurança social, judicial, os próprios sindicatos... aí claro que estou de acordo!
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