terça-feira, janeiro 30, 2007

IVG (Parte.... Já não interessa que parte é...)

Com referendo a chegar-nos à porta, já não há muito a dizer. O debate tornou-se numa das conversas de surdos mais patéticas que já vi. Tipo aqueles bonequinhos aos saltos a dizer "look at me!"... Depressa esgotaram os argumentos, não que houvesse muito a dizer sequer! É uma questão de consciencia individual, sim, e é também uma questão de Direito. Cada um toma a sua decisão em consciencia e baseado nos seus princípios. Não é preciso tanta gritaria, acho! Quando se grita desce-se o nível com muita facilidade...

E não me pronuncio contra a discussão em si... é mais p'la forma. Que me tem parecido patética, cheia de emoções disparatadas... Como todos sabem, se acompanham este blog, eu sou p'lo "Sim". Não por defender o aborto, que acho que ninguém defende, mas sim porque não tenho o direito de julgar. É o direito à opção. De uma forma pura e simples! Já escrevi o que penso sobre isso. Mantenho!

Neste momento, enquando escrevo estas breves linhas, está uma senhora a berrar na TV... Não a oiço, porque já estou farto. Tenho a decisão tomada, e a opinião formada.

17 comentários:

Anónimo disse...

Começou desde ás 00:00 horas do 30 de Janeiro 2007, a campanha pelo referendo do IVG oficialmente.

É importante ainda haver este(s) programa(s) para sensibilizar e haver mais informação, porque ainda há 13% de indecisos e espero que a abstenção não seja a maioria como do outro referendo, julgo no ano de 1998.

Anónimo disse...

Tal como quem está a favor do "sim", não é a favor do aborto, quem está a favor do "não", não é a favor da penalização!
A questão é: Despenalização da IVG, até às 10 semanas E criar condições para a IVG?
1. Pq votar apenas pela despenalização e não criar condição acho que não faz sentido.
2. Se votar sim à despenalização quer dizer criar condições através do estado, ie:
1) Menos orçamento para outras áreas de saúde
2) Sistema de saúde mais demorado
3) Incentivo à IVG em vez de incentivar a criar uma vida.

Ricardo Ramalho disse...

Concordo contigo quando dizes que "despenalizar sem criar condições não faz sentido". Também acho, e por isso voto "sim" e espero que sejam criadas essas condições.

MAS!...

1) Há a questão da saúde pública, que também conta aqui, e não a referiste. E aí o Estado é também responsável e terá que gastar dinheiro, dinheiro esse que já é gasto no resultado dos abortos mal feitos.

2) O "sistema de saúde mais demorado" é daquelas qualificações iguais a "funcionário público = calão". Nada de novo aí... Cada serviço tem os seus problemas e tempos médios de espera. Uns até são bastante rápidos, mas é óbvio que desses nunca se fala... Só os serviços de obstetrícia seriam afectados (digo eu...).

3) Para criar os tais incentivos passa por não precarizar o emprego, por dar horários às pessoas (tu sabes bem o que é isso, devido ao teu querido patrão...), por dar reais alternativas às mães (que o querem ser...) para que possam prescindir do emprego, penalizar os patrões que forçam as mulheres a assinar contratos em que se comprometem a não engravidar..., enfim todo um conjunto de incentivos à Natalidade! Para criar verdadeiros baby booms... A IVG não me parece que fique desadequada neste contexto. Crianças não desejadas é das piores coisas que existem...

Não vou discutir os limites da vida (quando começa), porque me parece filosofia de café, e não leva a lado nenhum, num sentido prático...

Anónimo disse...

É justo que uma criança "indesejada" por motivos profissionais, tais como "agora não dá mesmo jeito" por exemplo, seja abortada com o nosso consentimento, os nossos descontos e considerado "um caso de saúde pública"? Não deverão existir limites?
Já te questionaste se nasceste na altura certa e se provavelmente se abortar fosse uma opção livre e não criticável, se terias nascido?
Preferia, se me dessem opção, descontar para o sos criança ou qualquer associação do género, tipo Ajuda de Mãe, ou assim.
Ter opção é também poder escolher ter filhos mesmo sendo pobre, com a ajuda de todos, e não ser incentivado a abortar porque "sai mais barato".
Desde o ultimo referendo foram criados 60 centros de apoio a mães com dificuldades (segundo vi ontem...) pelo que não se pode dizer que o NÃO não serve para nada e que fica tudo na mesma. Pelo contrário, indica apenas a direcção que se pretende seguir e o sentido das estratégias a implementar.
Despenalização, sim. Aborto livre patrocinado por todos nós, NÃO.
Criem as condições.Planeamento. Expliquem o que vai acontecer de seguida. Métodos contraceptivos livres e o que mais tiver que ser. Depois sim, quando existirem as condições,consultas de planeamento familiar num curto espaço de tempo, etc, deixem entrar as clinicas espanholas, que elas trabalham bem!
Não tens medo de que tudo isto seja uma aldrabice na altura da implementação e que não resolva o problema de quem precisa mesmo? De quem é "carenciado"?

Anónimo disse...

A minha pergunta é esta: O que muda em relação à despenalização do aborto e em relação a uma lei existente e hipócrita, (que não resolve nada sobre o assunto) se eu votar "não"? e se um contraceptivo falha, por ex, e eu não tenho condições para ter esse filho? Sou obrigada a tê-lo em nome da vida? então porque se pode abortar em caso de violação? onde está aqui o "em nome da vida"?

Ricardo Ramalho disse...

Há vários problemas a resolver. E se se resolver a parte da despenalização já fico minimamente contente...

Mas também não se pode despenalizar sem criar condições! Resolve-se o problema da despenalização, mas não se resolve o problema da saúde pública... Porque sem condições só faz quem pode fazer (pagar).

Anónimo disse...

Mas alguém disse que não íam haver condições? Agora é que elas não existem! Não me incomóda ter instituições públicas e privadas a funcionar para resolver este problema... incomoda-me muito mais pensar que há mulheres que morrem por isto ou que segundo a lei são criminosas e podem ser condenadas! Todos os outros problemas de saúde pública e que não dizem directamente respeito ao aborto, claro que têm que ser resolvidos, na minha opinião por ordem de prioridades, mas nada têm a ver com este problema concreto.

Anónimo disse...

001.
Uma pequena história:
Já foste a uma consulta de planeamento familiar? Eu tentei. Numa urgência a que fui, em Oeiras, perguntei o que tinha que fazer para ir a essa consulta. Disseram-me (e era minha médica de familia) que tinha que marcar uma consulta com ela (médica de família). O meu Centro de Saúde era o de Barcarena e tentei marcar durante dois meses, mas era só em dias especificos (tipo dois por mês), esgotava logo e eu estava a trabalhar pelo que não podia ir lá para as filas. Desisti e recorri ao meu sistema PRIVADO de saúde e fui à ginecologista.

Suponho que teria sido bem mais fácil engravidar (em vez de espera uns meses para me ser receitada a pílula e fazer os exames que tinha que fazer, etc) e posteriormente, se necessário, abortar (num máximo de 10 semanas tinha tudo resolvido e até aposto que me receitavam umas pilulas para o futuro!) - É irónico e até "estúpido", mas penso que mais vale prevenir que remediar e aqui há uma falha qualquer.


002.
Será que o uso livre ("despenalização") de armas nos Estados Unidos (por exemplo) não aumentou o número de crimes e mortes por arma de fogo?

Será que a maioria das mulheres (todas?) não preferem ter o filho - se lhes derem as condições - em vez de eliminá-lo? (as condições podem variar, não estou só a falar monetáriamente)... Sim, sai muito mais barato e dá menos problemas eliminá-lo, para o estado, que no fundo somos todos nós (manter uma "criança" durante um mínimo de 18 anos é complicado)...

Não quero fazer propaganda, cada um pense o que quizer, eu acredito que alguns dos meus amigos talvez não existissem se o aborto fosse livre. E eu gosto deles. Acho que merecem estar vivos, por mais esforços que as mães, pais, familiares, tenham tido que fazer.


003.
E no fundo todos temos razão e todos somos contra o aborto.
Para mim nem todos os meios justificam os fins.
Também nunca se vai saber quem tem mais razão e quais as melhores medidas a tomar.
É por isso que há referendo, porque não há uma solução certa e justa e assim ninguém é responsável pela decisão tomada(somos todos).
Também não somos iguais aos outros países pelo que a experiência de fora pode ser indicativa mas não certa para nós.
A ver vamos! :P

Anónimo disse...

Não há ninguém a favor do aborto!

Anónimo disse...

É óbvio que todos nós queremos que o planeamento famíliar funcione e que todas as mulheres engravidem apenas quando têm reunidas as condições para tal. Mas o que está aqui em causa é muito mais que isso... eu, só poderia defender o "não" e o principio inviolável da vida que lhe está subjacente, se soubesse que estavam criadas as estruturas necessárias para que a interrupção voluntária da gravidez não tivesse, em nenhuma situação e em nenhum caso, de ser equacionada... e isso é, claramente, uma utopia nas sociedades em que vivemos.

A despenalização serve essencialmente para que as mulheres não sejam consideradas criminosas por abortarem e para que possamos respeitar a opção de cada uma, sejam quais forem os seus motivos.

Anónimo disse...

acontece que um feto com 10 semanas é um ser vivo. Respira, movimenta-se, alimenta-se, sente. inventei as leis que quiserem. despenalizem, penalizem, julguem, culpem ou não. decidam se é crime ou opção.
seja qual for o resultado do referendo, a verdade é uma só, o aborto é morte. esteja ou não previsto na lei.

Ricardo Ramalho disse...

Para morrer é preciso nascer... Portanto a noção de morte aí fica um pouco distorcida não?...

Anónimo disse...

O lindo é fazer nascer os amorosos seres vivos e dar-lhes uma vida miserável!

Anónimo disse...

Antes de fazê-los pensem, ou previnam por favor, haja Bom Senso!!!

É uma vida pá, já somos tão egoístas, e não respeitamos uns aos outros...

Ricardo Ramalho disse...

Egoísmo, no meu ponto de vista (e neste contexto), é não aceitar que outros possam agir de maneira diferente da minha.

Anónimo disse...

com essa é que me baralhaste... se para morrer é preciso nascer (o feto não está vivo) então porque não despenalizar o aborto até ao fim da gestação?!?!

Ricardo Ramalho disse...

@Anonimo:

Bom... aí entra a questão das 10 semanas. Até lá (um pouco mais, um pouco menos), o sistema nervoso central não se está a desenvolver - não existe! Portanto o feto não sente fisicamente nada aquando do aborto.

Podíamos discutir a viabilidade, quando começa, o que é a vida... Mas isso é romantismo, e aqui é uma questão muito prática mesmo.